O Ouro e os Bancos Centrais

Desde meados do século XIX o funcionamento do padrão-ouro impôs limites de eficácia sobre as emissões de dinheiro, já que toda a emissão tinha de ser convertível em ouro. A expansão da oferta de moeda era necessariamente restrita. Esta regra monetária, permitiu que durante mais de 50 anos houvesse uma estabilidade monetária e de preços, muito eficaz. Actualmente, a moeda não é convertível em ouro e a sua aceitação depende apenas da confiança no seu poder aquisitivo. Essa confiança foi quebrada em várias ocasiões. 

A teoria económica diz-nos que o aumento excessivo no fornecimento de um bem, o deprecia. O dinheiro não é uma excepção. A inflação é um fenômeno monetário resultante do aumento da liquidez sobre o crescimento dos bens ou serviços disponíveis. Se não aumentarmos o nosso rendimento ou riqueza, mas apenas a quantidade de dinheiro, iremos pagar um preço mais elevado para os activos existentes, mas não seremos mais ricos.

A segunda metade do século XX está repleta de situações de inflação monetária, resultado da monetização dos déficits, dos governos que seguiram uma política orçamental expansionista. Porém, até esta perversão do valor do dinheiro esbarrou em limites impostos pelos próprios factos. Com a actual liberdade de movimento de capitais, os utilizadores da moeda podem escapar cada vez mais às moedas inflacionadas, refugiando-se em outros valores mais credíveis e estáveis, como o ouro e a prata, como meios alternativos para o investimento e conservação de riqueza. No final do século XX, a reacção dos mercados forçou os Estados a permitirem aos Bancos Centrais regularem autonomamente a oferta de moeda, de acordo com regras que preservassem, prioritariamente, o poder aquisitivo desta.

O Ouro como garantia

GarantiaA Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu viu ontem aprovada por unanimidade a aceitação do ouro como garantia, o que é um reconhecimento claro da crescente importância que o ouro vem adquirindo, como um activo líquido de qualidade.
Várias Instituições Financeiras têm vindo a reforçar as suas reservas de ouro. O Banco Central do México adquiriu em Abril, 5,9 toneladas de ouro, o que situa as suas reservas em 106 toneladas. De igual forma durante o mês de Abril, o Banco Central da Rússia aumentou as suas reservas de ouro em 13.72 toneladas. A procura por ouro, como investimento refúgio, seja ele sob a forma de Barras ou Moedas, ou ainda em objectos de uso pessoal usados (segunda mão), a preços mais convidativos, tem vindo a intensificar-se e já não só por instituições e governos, também por investidores particulares . É uma tendência universal.

Crise duplica investimentos em barras e moedas de ouro

O ouro bateu ontem um novo recorde em euros.

Cotação em euros do metal precioso atingiu ontem um novo máximo histórico. O ouro cotou em 1.087 euros.

A incerteza criada em torno da crise de dívida soberana, as taxas de juro reais negativas, os receios com a subida da inflação e a fraqueza do dólar levaram os investidores europeus a entrarem numa corrida ao ouro. Segundo dados do World Gold Council, entidade que colige a informação sobre a procura e a oferta do metal amarelo, a procura por barras e moedas de ouro duplicou no primeiro trimestre, face a igual período do ano passado.

A febre pelo ouro, um activo que tende a valorizar em períodos turbulentos e de inflação elevada, levou a cotação em euros do metal precioso a registar um novo máximo histórico durante a sessão de ontem. O preço chegou a atingir os 1.087,81 euros e valoriza 2% desde o início do ano. Já em dólares, o ouro acumula ganhos de 7,52% em 2011, valendo 1.526 dólares.

“Na Europa, a solicitação de um resgate da UE por Portugal no final do trimestre, reforçou os receios dos investidores de que a recuperação da Europa seja fragmentada e que as tensões internas provavelmente têm um impacto significativo no futuro da UE e do euro”, refere o WGC. Além da crise de dívida soberana, a entidade observa que também a instabilidade no Norte de África e no Médio Oriente também levaram a um aumento da procura.

Recorde-se que o metal amarelo dá ganhos aos investidores há dez anos consecutivos. O retorno anualizado desde 2000 é de 12,19% em euros e de 16,10% em dólares.

O cenário de receio fez com que a procura dos europeus por barras e moedas de ouro passasse de 39,5 toneladas no primeiro trimestre de 2010 para 78,1 toneladas nos primeiros três meses de 2011. Já em termos de valor, a procura atingiu 3,481 mil milhões de euros entre Janeiro e Março deste ano, mais 147% que os 1,41 mil milhões verificadas no período homólogo. A nível mundial, a procura por barras e moedas aumentou 52% para 366,4 toneladas. Atingiu os 16,33 mil milhões de dólares, mais 90% que em 2010.

Além deste interesse, o ouro começou a ser aceite como colateral em operações financeiras, com câmaras de compensação a aceitarem o metal amarelo em condições similares aos títulos de dívida alemã ou francesa, por exemplo.

Analistas não antecipam fim do ‘bull market’ no metal amarelo.

Apesar da febre pelo ouro e de alguns economistas falarem na possibilidade de se estar na presença de uma bolha, os maiores bancos de investimento continuam optimistas para o desempenho do metal amarelo e não vaticinam, para já, o fim do ‘bull market’.

Esta semana, o Goldman Sachs afirmou que “espera que os preços do ouro continuem a subir em 2011 já que o programa de ‘quantitative easing’ [dos EUA] deverá manter a taxa de juro real baixa”. A Reserva Federal dos EUA está a injectar dinheiro na economia ao mesmo tempo que mantém as taxas de referência próximas de zero, o que tira atractividade ao dólar. No entanto, o banco prevê um bom crescimento económico nos EUA em 2012, antecipando que o preço do ouro atinja o seu pico nesse ano. O Goldman espera que o ouro negoceie em média nos 1.690 dólares nos próximos 12 meses.

Também o Deutsche Bank referiu num ‘research’ recente que “as condições para mais avanços nos preços permanecem intactas, como taxas de juro reais negativas, compras por parte de bancos centrais e um dólar norte-americano estruturalmente fraco”. O banco alemão tem um preço-alvo de 2.000 dólares para o metal amarelo.

Fonte: Económico – 2011 Mai 26

Porque o ouro não desvaloriza?

O ouro tem mantido o seu valor, independentemente do estado da economia, devido à sua resistência e escassez. O ouro é um dos poucos metais que não se degrada com o tempo, o que o torna altamente valioso. Devido à estabilidade do seu valor, as pessoas tendem a investir os seus bens em barras de ouro para se proteger contra a desvalorização do papel-moeda.

O preço actual de mercado do ouro, que neste momento já ultrapassa os US $1.500, e a procura, parecem indicar que há muita incerteza sobre o futuro que é diametralmente oposto ao que muitos economistas estão a declarar, ou seja, que estamos no bom caminho para a recuperação. Uma série de factores não são levados em conta para a elevada procura por ouro, incluindo um clima de instabilidade geopolítica com guerras generalizadas, assim como a guerra contra o terrorismo. As pessoas estão preocupadas com o futuro e, no caso de guerra, a única coisa que irá manter o seu valor, será o ouro.

Há vozes pessimistas que acreditam que vamos enfrentar uma grave recessão, ainda por vir. Eles sentem que a segunda parte da recessão pode ser ainda mais grave do que a primeira e que irá conduzir o valor dos metais preciosos a picos nunca antes vistos, em especial o ouro a prata. Vale a pena investir no preço actual de mercado do ouro, pois este pode até mesmo dobrar, se formos confrontados com uma hiperinflação ou o colapso de algumas instituições financeiras.

Durante muito tempo, a valorização do ouro em dólares ajustados à inflação manteve-se estável. Actualmente, e segundo esta medida de avaliação, o ouro a 1.400 dólares por onça regista um desvio padrão de 2,5 acima da sua média a longo prazo. E o ouro está também caro tendo em conta o seu custo de extracção, custo este que o Credit Suisse afirma situar-se nos 600 dólares por onça.

A Goldman Sachs aponta para valores de 1.690 dólares por onça até ao final de 2011, quase 20% acima do preço actual.

Não é o ouro que está a subir, mas sim o papel-moeda a desvalorizar, dizem alguns economistas. Com a desvalorização das poupanças e a crise financeira, aqueles que se refugiam no ouro tentam evitar a pesada factura.